Adenomiose: o que é, sintomas e tudo o que você precisa saber
Autora: Dra. Nilka Fernandes Donadio - Médica ginecologista
A adenomiose é uma doença benigna, caracterizada pela invasão do endométrio no miométrio.
Explicando melhor, o endométrio é o tecido que habitualmente fica restrito à camada mais interna do útero e abriga o embrião no início da gravidez. Por isso, ele é um tecido que reponde aos hormônios, crescendo quando os ovários produzem estrogênio.
Ao final do ciclo menstrual, não ocorrendo a gravidez, esse tecido involui e começa a descolar do útero, se exteriorizando, o que nada mais é do que a menstruação.
Quando esse tecido endometrial invade a musculatura uterina, que é a camada mais externa do útero, temos o quadro chamado de adenomiose.
O que é adenomiose?
O endométrio é o tecido que reveste a cavidade uterina, local onde o embrião se fixa no início da gestação. É um tecido que responde aos hormônios, principalmente ao estrogênio e progesterona, sendo que, ao final de um ciclo menstrual, quando não ocorre uma gestação, esse tecido sofre uma descamação, ocorrendo assim a chamada menstruação.
A adenomiose nada mais é do que a presença das células do endométrio infiltradas no miométrio (músculo uterino).
Quais os sintomas da adenomiose uterina?
A condição pode causar aumento do útero e processo inflamatório, principalmente no período pré-menstrual e menstrual.
Dentre os principais sintomas da adenomiose, temos as cólicas menstruais, sensação de pressão e inchaço na parte inferior do abdome no período menstrual, frequentemente sangramentos menstruais irregulares e, nos casos mais graves, hemorragias.
Podem cursar também com infertilidade. O mecanismo é semelhante à endometriose, que seria a presença do endométrio fora do seu lugar habitual, espalhado por todo o abdome. Na adenomiose o endométrio também se encontra fora de seu lugar habitual, só que, ao invés de estar espalhado por todo abdome, se encontra entre as fibras musculares do útero, e por isso muitas vezes é chamada de “endometriose interna do útero”
A adenomiose causa infertilidade?
A adenomiose pode ser mínima e localizada ou muito extensa, comprometendo quase toda a parede do útero.
Nos casos mais avançados, frequentemente deforma a cavidade uterina e causa um processo inflamatório que podem dificultar a fixação do embrião no útero e, portanto, a gravidez. Outro fator são as contrações uterinas, que na presença da adenomiose são mais frequentes e desordenadas, também levando a prejuízos na implantação. A exemplo disso, em ciclos de fertilização in vitro, se a mulher apresentar uma adenomiose extensa, com falhas de implantação em ciclos anteriores, é preconizado o tratamento da adenomiose com medicamentos específicos, que levam a diminuição da extensão da doença, antes de uma nova transferência embrionária. Quando a adenomiose é pequena não representa isoladamente fator de infertilidade feminina.
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Adenomiose engorda ou incha a barriga?
A adenomiose não engorda. O que acontece é que a doença provoca um leve ou moderado aumento do tamanho do útero, podendo aumentar discretamente o volume da parte inferior do abdome.
No período menstrual, a mulher frequentemente sente uma sensação de peso e inchaço no baixo ventre, associada a cólicas.
Adenomiose é câncer?
Não, essa é uma doença benigna e não está relacionada ao câncer uterino.
Adenomiose e endometriose: Qual a diferença?
A adenomiose é a presença das células do endométrio infiltradas no miométrio (músculo uterino) e endometriose, a presença destas células fora do útero, espalhadas pelo abdome (ovário, intestino, bexiga, etc.), locais onde habitualmente não deveriam existir.
Na adenomiose, durante período menstrual, as células infiltradas do miométrio apresentam discreto sangramento, formando cistos próximos ao endométrio, visíveis ao ultrassom e à ressonância, levando a um aumento do volume uterino, cólicas e fluxos menstruais abundantes e irregulares.
Já na endometriose, as células implantadas sobre o peritônio (camada que recobre os órgãos pélvicos), também apresentam sangramentos, levando a uma inflamação crônica da pelve, provocando aderências (os órgãos grudam entre si), endometriomas nos ovários, causando sintomas como cólicas menstruais, dores abdominais, desconforto durante relações sexuais e infertilidade.
Quem tem adenomiose também tem endometriose?
Apesar de haver dúvidas na literatura médica, as duas doenças aparentemente não têm uma relação direta, podendo ocorrer isoladamente nas mulheres. Mas a sua associação não é infrequente. Algumas mulheres que já tiveram várias gestações podem ter adenomiose, uma vez que as gestações facilitam a penetração das células do endométrio no miométrio. Por esse ser um outro mecanismo de aparecimento da doença, frequentemente multíparas podem ter adenomiose sem terem endometriose.
Adenomiose e miomas são relacionados?
Ambas respondem ao estímulo hormonal do estrogênio e progesterona, causam aumento do fluxo menstrual, cólicas (principalmente a adenomiose), e também podem interferir com a fertilidade, dependendo da extensão da doença. Porém, os miomas, são tumores uterinos benignos, formados por fibras do musculo uterino desorganizadas, formando um pseudo nódulo.
Apesar de serem doenças independentes, muitas mulheres têm simultaneamente as duas patologias.
Adenomiose tem origem genética?
Embora sempre tenha sido considerada a condição tradicionalmente encontrada em multíparas acima de 40 anos que apresentam dor e sangramento menstrual intenso, o cenário epidemiológico mudou completamente, sendo cada vez mais identificada em mulheres jovens com dor, sangramento uterino anormal, infertilidade, ou mesmo naquelas com ausência de sintomas.
Uma hipótese é que o desenvolvimento da placenta e distensão do útero durante a gravidez possa ser um dos fatores facilitadores para o aparecimento da doença em multíparas. Já em mulheres jovens, sem filhos, existiria uma correlação genética, com alterações do endométrio tópico, que apresentaria uma capacidade maior de infiltração, replicação tecidual e produção estrogênica local, propiciando a invasão das células endometriais no miométrio.
Diagnóstico da adenomiose
Alguns exames são fundamentais para identificar a condição. Veja:
CA125 aumentado
O CA 125 é um exame de sangue, que, quando aumentado, indica que algo está afetando os ovários ou o útero
Na maior parte das pacientes, os pequenos aumentos desse marcador podem estar associados tanto a adenomiose, quanto a endometriose. É importante salientar que, pequenas elevações deste marcador, não estão relacionadas ao câncer. De qualquer forma, como qualquer outro exame, sempre que alterado deve-se procurar um especialista para solicitar os exames complementares (principalmente de imagem) para melhor avaliação dos resultados.
Exames de CA 125 normais, não excluem a presença de endometriose, pois essa doença pode cursar com níveis habituais deste marcador. Além disso, não há associação direta entre o valor do CA125 e a gravidade e extensão da endometriose ou adenomiose.
Exames de imagem para diagnóstico da endometriose
A ultrassonografia e a ressonância magnética são os principais exames de imagem para essa avaliação.
Nos dois exames, quando há adenomiose, são observadas alterações no tecido uterino que está em volta do endométrio/cavidade uterina. O sinal mais confiável para o diagnóstico da adenomiose é a presença de pequenos cistos, com ou sem sangue, ao redor do endométrio, mas há várias outras alterações possíveis. Por isso, para um diagnóstico mais preciso, são necessários bons equipamentos e um profissional experiente.
Pode-se verificar também a presença de endometriose em outros exames habitualmente solicitados durante a pesquisa de fatores de infertilidade, como a Histerossalpingografia e a Histeroscopia diagnóstica. Vale ressaltar novamente que o diagnóstico adequado é realizado por ultrassonografia transvaginal ou ressonância magnética pélvica, como descrito anteriormente.
Quais os principais sinais de adenomiose na Ultrassonografia Transvaginal?
Os principais achados são:
- Cistos ou pequenas áreas claras (semelhantes ao endométrio) ao redor da cavidade uterina, a chamada “zona juncional”. Estes são os achados mais confiáveis para o diagnóstico;
- Heterogeneidade do miométrio (parede uterina), mais evidente ao redor do endométrio, sem nódulos;
- Aumento do volume uterino ou da espessura de uma das paredes, sem nódulos evidentes.
Quais os principais sinais de adenomiose na Ressonância Magnética?
Os achados são semelhantes aos da ultrassonografia, sendo que na ressonância é possível detectar pequenos pontos com sangue na parede uterina, o que facilita o diagnóstico.
Quais os principais sinais de adenomiose na Histerossalpingografia?
Na Histerossalpingografia, a cavidade uterina pode apresentar aumento das dimensões, alterações na forma, assimetrias e abaulamentos dos contornos resultantes da hipertrofia muscular e da eventual associação com miomas e adenomiomas.
Classicamente, a adenomiose caracteriza-se por formações diverticulares comunicantes com a cavidade endometrial que se estendem para a profundidade do miométrio, acometendo preferencialmente as porções superiores do útero, podendo ser únicas ou múltiplas, apresentar tamanhos variados e assumindo aspecto arborescente.
Cornos uterinos espásticos, afilados, com contornos serrilhados e espiculados, associados à retificação e rigidez da emergência das tubas, também podem ser sinais indicativos do comprometimento por adenomiose.
A Histerossalpingografia pode evidenciar sinais radiológicos característicos de adenomiose uterina, porém o ultrassom transvaginal e a ressonância magnética da pelve são os exames de imagem padrão ouro para diagnóstico dessa patologia.
Quais os principais sinais de adenomiose na Histeroscopia?
A histeroscopia diagnóstica é frequente na investigação de casais inférteis e hemorragia uterina anormal, pois permite a visualização direta da cavidade uterina, bem como realizar coleta de material para biópsia de endométrio.
Na adenomiose, pode ser usada para o diagnóstico de formas focais ou difusas superficiais, porém o diagnóstico definitivo é a avaliação histopatológica. A presença de um endométrio irregular, hipervascularizado com pequenos cistos hemorrágicos e pontos enegrecidos, além de defeitos endometriais (falhas no endométrio), são sinais sugestivos da doença quando visualizados ao exame histeroscópico.
Sempre devo realizar Ressonância Magnética para o diagnóstico da adenomiose?
Na maior parte dos casos, a Ultrassonografia Transvaginal é suficiente para esse diagnóstico, mas em algumas situações a Ressonância pode fornecer informações importantes como:
- Úteros muito aumentados;
- Presença de múltiplos miomas;
- Indisponibilidade de ultrassonografistas experientes.
Pode haver dificuldade no diagnóstico por imagem entre adenomiose e mioma?
Na maior parte das vezes o aspecto das duas doenças é bem diferente. No entanto, em algumas pacientes a adenomiose pode ser mais localizada e ter um aspecto nodular, simulando mioma.
Um bom exame de Ultrassonografia Transvaginal quase sempre esclarece o diagnóstico. Em caso de persistência de dúvida, a Ressonância Magnética poderá esclarecer.
Tratamento para adenomiose
Quanto ao tratamento, depende da idade da mulher, se ela já tem filhos e da severidade dos sintomas. O tratamento clínico com o uso de progesterona é uma opção, pois diminui o sangramento e a evolução da doença, podendo ser administrada de forma oral, por implantes subcutâneos ou através do DIU hormonal.
Em casos sem resposta adequada ao tratamento clínico, pode ser indicada a embolização ou, em casos mais extremos, a histerectomia (retirada cirúrgica do útero).
Quando a mulher deseja filhos, se a adenomiose for focal, pode se indicar a retirada cirúrgica da região, mas como na maioria das vezes a adenomiose é difusa, preconiza-se, por exemplo, antes de uma transferência de embriões na fertilização in vitro, regredir a extensão da adenomiose com análogos do GnRH, que são substâncias que promovem uma “menopausa temporária e reversível” para só depois serem colocados os embriões dentro do útero, aumentando assim as taxas de gestação