Exames de gravidez: desde o diagnóstico até os exames mais importantes na gestação
Fonte: Dra. Adriana Campaner, médica ginecologista
Conheça os exames mais importantes na gravidez, desde o diagnóstico até os exames pré-natais.
Diagnóstico de gravidez
A suspeita de uma gestação pode ser percebida por sinais físicos. Os mais comuns são:
-
Atraso menstrual;
-
Náuseas e vômitos;
-
Sensibilidade e aumento das mamas;
-
Aumento da frequência urinária.
Após a suspeita, a gravidez pode ser confirmada ainda nos seus estágios iniciais. Os métodos preferenciais para o diagnóstico são:
Dosagem sanguínea do BhCG quantitativo:
Durante a gravidez, há a presença de secreção na circulação sanguínea de um hormônio chamado Gonadotrofina Coriônica Humana. Sendo assim, através da dosagem sanguínea do BhCG, é possível confirmar a gestação com 5 dias de atraso menstrual.
Ultrassonografia obstétrica:
A ultrassonografia obstétrica do primeiro trimestre de gravidez, também pode auxiliar no diagnóstico da gestação. A avaliação transvaginal é capaz de visualizar o saco gestacional no interior da cavidade uterina a partir da 5ª semana de gestação. A vesícula vitelínica é a primeira estrutura a ser vista entre a 5ª e a 6ª semana, enquanto o embrião é frequentemente visto em torno da 6ª semana.
Quais os exames pedidos na gravidez?
Para o acompanhamento pré-natal, geralmente são solicitados os seguintes exames:
-
Exames de imagem;
-
Ultrassonografia de 1º trimestre;
-
Ultrassonografia obstétrica de 1º e 2º trimestre;
-
Ultrassonografia obstétrica com dopplervelocimetria;
-
Perfil biofísico fetal;
-
Cardiotocografia;
-
Ultrassonografias morfológicas.
O exame de NIPT é indicado, especialmente, para mulheres grávidas acima dos 35 anos; gestantes com histórico de gravidez anterior afetada por alterações cromossômicas; gestações em que um ou ambos pais sejam portadores de mutações genéticas e pacientes com triagem sérica positiva no primeiro ou segundo trimestre de gestação. Deve ser realizado no sangue a partir de 9 semanas de gestação.
Exames de Imagem no acompanhamento pré-natal
A gestação é um momento de alegria, descobertas e ansiedade para a família que se prepara para receber o bebê.
A gestante é constantemente questionada sobre a evolução da gravidez, tanto do seu estado de saúde, quanto ao desenvolvimento do feto. Esse período deve sempre ser acompanhado com o máximo de atenção, focando nas consultas de pré-natal e nos exames pertinentes à gestação.
Com o aprimoramento da ultrassonografia e do uso no acompanhamento da gravidez, podemos conhecer aspectos do desenvolvimento do feto que antes passavam despercebidos. Sendo assim, muitas complicações da gestação puderam ser melhor compreendidas e novas abordagens diagnósticas e terapêuticas foram descobertas.
Esse desenvolvimento acabou levando à criação de uma especialidade em Obstetrícia que é a Medicina Fetal. Dedicada ao acompanhamento do bebê e ligada à evolução da ultrassonografia, essa especialidade médica vê o feto como paciente e, ao longo dos anos, vem desenvolvendo tecnologias voltadas ao diagnóstico e tratamentos intrauterinos.
Apesar da baixa ocorrência de malformações na população em geral (entre 2 e 3%), a avaliação ultrassonográfica sequencial na gestação pode auxiliar no acompanhamento e na tranquilização da gestante e da família.
A seguir abordamos um pouco sobre os exames ultrassonográficos realizados durante o pré-natal:
Ultrassonografia de 1º trimestre
Essa ultrassonografia é o primeiro exame de imagem da gestação e do bebê, sendo frequentemente realizado por via transvaginal.
A ultrassonografia obstétrica do 1º trimestre tem como principais funções identificar:
- Local da gestação (gestação tópica ou ectópica);
- Vitalidade do bebê,
- Número de sacos gestacionais (gestação única ou gemelar);
- Número de placentas, em caso de gestação gemelar;
- Medir o embrião e definir a idade gestacional;
- Avaliar útero e ovários.
É importante salientar que, dentre todos os parâmetros para cálculo da idade gestacional, o CCN (comprimento cabeça-nádegas), que é realizado durante essa ultrassonografia, é o mais confiável. Estudo de Campbell, sobre essa avaliação, mostrou que o CCN previu a data provável do parto com 85% de precisão.
Além disso, a ultrassonografia do 1º trimestre identifica se uma gestação é múltipla e permite a identificação do número de placentas (corionicidade). Essa informação é importante, pois define se a gestação gemelar tem uma placenta (monocoriônica) ou placentas distintas (dicoriônica). Caso seja uma gestação monocoriônica, o padrão de acompanhamento é mais rigoroso.
Ultrassonografia obstétrica de 2º e 3º trimestres
A ultrassonografia obstétrica de 2º e 3º trimestres é o exame mais comum realizado em laboratório. É indicado para:
- Determinação da idade gestacional;
- Avaliação da posição fetal;
- Avaliação do peso e padrão de crescimento fetal;
- Avaliação do bem-estar fetal;
- Avaliação da placenta, do cordão umbilical e líquido amniótico.
A avaliação ultrassonográfica obstétrica do 2o e 3o trimestres pode ser realizada com o intuito de determinar a idade gestacional, porém os parâmetros utilizados são menos precisos do que a CCN. Sendo assim, na presença de uma avaliação ultrassonográfica de 1º trimestre, esse deverá ser o parâmetro preferencial.
A ultrassonografia obstétrica do 2o trimestre tem como função principal avaliar o bem-estar e o padrão de crescimento do feto.
O bem-estar fetal pode ser avaliado através da curva de crescimento dentro da normalidade, pela atividade fetal durante o exame e pela quantidade de líquido amniótico. Essa avaliação pode ser complementada por exames, como o perfil biofísico fetal e a dopplervelocimetria fetal.
A comparação entre os exames ultrassonográficos, realizados pela paciente, fornece a informação ao médico obstetra sobre os parâmetros de crescimento e vitalidade, permitindo que, na presença de alteração, esse venha a agir de forma precoce e adequada para cada caso.
Ultrassonografia obstétrica com dopplervelocimetria:
Esse exame complementa a avaliação ultrassonográfica obstétrica de rotina. Durante o exame, a dopplervelocimetria é capaz de mostrar ao médico obstetra a situação do ambiente vascular gestacional, ou seja, o fluxo sanguíneo da placenta, do bebê e do útero. Essa avaliação pode ser dividida nos territórios vasculares materno e fetal.
Do ponto de vista materno, são avaliadas principalmente as artérias uterinas, com o objetivo de identificar riscos associados à ocorrência de restrição de crescimento intrauterino e/ou doença hipertensiva específica da gestação.
No território fetal, é avaliada principalmente a dopplervelocimetria das artérias umbilicais e da artéria cerebral média do feto.
Com esse exame, o clínico poderá avaliar o estado hemodinâmico fetal, recebendo a informação correta sobre os diversos leitos vasculares e consequentemente sobre as condições do bem-estar fetal. As alterações desses valores nortearão a decisão médica perante cada caso em específico.
Perfil biofísico fetal:
É frequentemente utilizado para avaliação do bem-estar fetal. Esse exame foi idealizado por Manning e col. em 1982 e baseia-se na avaliação de 5 parâmetros:
- Volume do líquido amniótico;
- Tônus fetal;
- Movimentos corporais fetais;
- Movimentos respiratórios fetais;
- Cardiotocografia.
Cardiotocografia:
Sua finalidade é a avaliação do bem-estar fetal através do monitoramento da frequência cardíaca do feto, semelhante a um eletrocardiograma, além de permitir a detecção das contrações uterinas. É realizado preferencialmente a partir da 28ª semana de gestação com a paciente deitada de costas. A gestante não deve estar em jejum por mais de 2 horas e o tempo de avaliação é de, no mínimo, 20 minutos.
Ultrassonografias morfológicas
Ultrassonografia morfológica de 1o trimestre:
A ultrassonografia morfológica de 1o trimestre é um exame utilizado com a finalidade de rastreamento de possíveis malformações fetais, a fim possibilitar diagnosticar precocemente durante a gestação.
Esse exame é realizado entre a 11a e a 14a semanas (preferencialmente entre a 12ª e 13ª semanas) de gestação e baseia-se na mensuração da chamada Translucência Nucal (TN), na presença do osso nasal (ausente/hipoplásico ou presente) e avaliação do ducto venoso.
Translucência Nucal é a medida de um fluido abaixo da pele da região do pescoço do bebê durante o 1o trimestre de gestação. Em gestações de fetos com alterações cromossômicas, doenças gênicas e/ou cardiopatias congênitas, essa medida pode estar aumentada.
O rastreamento pela Translucência Nucal detecta 80% dos casos de Síndrome de Down. Outros marcadores ultrassonográficos como a frequência cardíaca fetal, dopplervelocimetria de ducto venoso, avaliação do fluxo da valva tricúspide e a presença de osso nasal também contribuem para este rastreamento.
Entretanto, quando associado a marcadores bioquímicos como a fração livre do BhCG e PAPP-A, os valores de detecção desse rastreamento aumentam para 90%.
Durante a avaliação de 1o trimestre também é possível realizar o rastreamento para pré-eclâmpsia durante a gravidez, avaliando fatores combinados como:
- Características maternas;
- Histórico de doenças prévias e histórico obstétrico;
- Dopplervelocimetria de artérias uterinas;
- Medida da pressão arterial materna;
- Avaliação de um marcador bioquímico chamado PLGF.
Por fim, os achados da USG morfológica de 1o trimestre são marcadores que sinalizam uma situação de maior risco para uma alteração, indicando a necessidade de complementação com outros exames ou a de uma conduta diferenciada a ser realizada durante o pré-natal.
Ultrassom morfológico do 2o trimestre:
Com o desenvolvimento da ultrassonografia e consequente melhoria da resolução dos aparelhos de ultrassom, a anatomia fetal começou a ser conhecida a tal ponto que hoje em dia há praticamente padrões de normalidade para todos os órgãos fetais. Esse conhecimento permitiu o desenvolvimento da ultrassonografia morfológica, com o objetivo de avaliar detalhadamente os aspectos da formação estrutural do bebê.
Neste exame pode ser detalhado achados do Sistema Nervoso Central, extremidades esqueléticas, face, coração, rins e outros órgãos internos do feto. No USG de 2o trimestre também são avaliados os parâmetros biométricos do bebê (mensurações), além da avaliação da placenta, cordão umbilical e líquido amniótico.
Ultrassonografia de colo uterino:
A medida do comprimento do colo uterino pela via endovaginal, pode ser útil na predição do trabalho de parto prematuro, sendo preferencialmente realizado entre a 16a e a 24a semana de gestação.
É considerado normal o comprimento longitudinal do colo uterino acima de 2,5 cm, com a presença do eco glandular e a visualização do orifício interno do útero fechado sem proeminência da bolsa amniótica para o seu interior.
Ultrassonografia tridimensional 3D/4D
Representa uma evolução da ultrassonografia bidimensional. A obtenção de imagens tridimensionais permite aos pais e familiares uma visão mais realista do bebê. Além disso, mostra detalhes e movimentos em tempo real, proporcionando aos pais sentimentos de alegria e tranquilidade.
A ultrassonografia 3D/4D também pode, em determinadas situações, auxiliar o médico na avaliação mais detalhada de determinadas partes e órgãos do bebê, aumentando a sensibilidade e assertividade diagnóstica.
A qualidade do exame depende de vários fatores, dentre eles, a posição do bebê, a idade gestacional e a quantidade de líquido amniótico. As melhores imagens, principalmente da face, são obtidas com idade gestacional entre 26 e 30 semanas, época na qual a face está mais preenchida por tecido adiposo e geralmente tem um bom volume de líquido amniótico.