Câncer de colo de útero: tumor é considerado prevenível; entenda por que
O câncer de colo de útero também é conhecido como câncer cervical. Excluindo os tumores de pele não melanoma, essa é terceira doença maligna mais comum em mulheres no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
O que é câncer de colo de útero?
O câncer de colo de útero é um tumor maligno que aparece no colo do útero – ou seja, na parte final deste órgão, que o conecta com a vagina e é visível no exame especular.
Essa doença é precedida pelas lesões pré-cancerosas, que são chamadas de neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC). Se as lesões pré-cancerosas forem tratadas, elas não se transformam em câncer.
Quais são as causas do câncer de colo de útero?
A infecção persistente pelo Papilomavírus Humano (HPV) é a principal causa do câncer de colo do útero, respondendo por 99% dos casos.
Infecção pelo HPV
Existem mais de 150 a 200 tipos diferentes de HPV, mas cerca de 40 deles acometem o trato genital inferior (vulva, vagina e colo uterino), sendo que grande parte destes são considerados oncogênicos (com potencial para causar câncer).
Destes, os tipos 16 e 18 são os mais perigosos e responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer cervical.
A maioria das infecções por HPV é transitória e eliminada pelo próprio organismo, mas a persistência da infecção por tipos oncogênicos é o fator necessário para o desenvolvimento da doença.
Outros fatores de risco
Embora a infecção pelo HPV seja a causa principal, outros fatores aumentam o risco de desenvolvimento do câncer de colo do útero:
- Histórico sexual: o início precoce da atividade sexual e ter múltiplos parceiros sexuais.
- Tabagismo: o risco está diretamente relacionado à quantidade de cigarros fumados.
- Sistema imunológico comprometido: imunossupressão (imunidade baixa), como em mulheres portadoras do HIV.
- Multiparidade: ter tido vários partos (multiparidade).
Quais são os sintomas de câncer de colo de útero?
Não costuma haver sintomas em estágios iniciais e na fase pré-cancerosa. Por outro lado, em estágios mais avançados de câncer de colo de útero podem surgir manifestações como:
- Dor na pelve;
- Sangramento vaginal espontâneo (fora do período de menstruação) ou quando há relação sexual;
- Cólicas;
- Insuficiência renal (caso o tumor tenha se espalhado);
- Dificuldade para evacuar (caso o tumor tenha se espalhado).
Diagnóstico do câncer de colo do útero
O diagnóstico precoce e o rastreamento são fundamentais para detectar lesões pré-cancerosas ou o câncer em estágio inicial. A detecção geralmente começa com exames de rastreamento e, se forem encontradas alterações, exames complementares são realizados para confirmar o diagnóstico.
Exame de Papanicolau (exame citopatológico)
É o exame de rastreamento mais comum, que coleta células do colo do útero para análise em laboratório, procurando por alterações que possam indicar lesões pré-cancerosas ou câncer.
Teste de DNA do HPV (captura híbrida ou PCR)
É um exame molecular considerado mais sensível que a citologia e que detecta a presença do DNA de tipos de HPV de alto risco (oncogênicos), muitas vezes antes mesmo que as lesões apareçam. É considerado o método de rastreamento primário mais eficaz.
Colposcopia
É realizada se o Papanicolau ou o teste de HPV apresentarem alterações. O médico usa um aparelho (colposcópio) para visualizar o colo do útero e a vagina de forma ampliada, com aplicação de soluções, em busca de lesões.
Biópsia
Se uma área suspeita for encontrada durante a colposcopia, um pequeno pedaço de tecido é retirado para análise laboratorial (biópsia) para confirmar (ou descartar) a presença de câncer ou lesões pré-cancerosas.
Câncer de colo de útero pode ser detectado no ultrassom?
Em alguns casos de câncer de colo do útero, nos quais as pacientes já passaram da fase de pré-câncer, é possível identificar uma ulceração ou uma massa até mesmo durante o exame físico feito pelo médico ginecologista.
Alterações também podem ser vistas por meio do ultrassom vaginal, da tomografia e da ressonância de pelve. No entanto, se o tumor estiver em fase bem inicial, pode ser difícil visualizá-lo nesses exames de imagem.
Tratamento do câncer de colo do útero
O tratamento depende do estágio (estadiamento) da doença, do tamanho do tumor e de fatores pessoais da paciente, paridade, dentre outros. Para as lesões precursoras (NIC), os tratamentos são menos invasivos e visam remover apenas a área afetada.
Para lesões pré-cancerosas ou câncer muito inicial, podem ser usados procedimentos como a conização (retirada de um fragmento em formato de cone do colo), principalmente por meio da cirurgia de alta frequência (CAF). Geralmente, a cirurgia é a primeira escolha quando o tumor já é invasivo, mas ainda está restrito ao colo do útero (histerectomia).
A quimioterapia pode ser usada isoladamente ou, mais comumente, em combinação com a radioterapia (chamada de quimiorradiação) para tratar a doença quando está mais avançada ou se espalhou.
Câncer de colo de útero tem cura?
Sim. Em geral, o câncer de colo de útero tem bons índices de cura. Quanto mais precoce for o diagnóstico, melhor tende a ser o prognóstico. Por isso, é importante manter consultas e exames ginecológicos em dia.
Dicas de prevenção do câncer de colo de útero
O câncer de colo de útero é considerado altamente prevenível, pois sua principal causa (infecção por HPV) pode ser evitada e suas lesões precursoras podem ser detectadas e tratadas precocemente. A prevenção é dividida em primária (evitar a infecção) e secundária (rastreamento).
Vacinação contra o HPV
Esta é a principal forma de prevenção primária. A vacina protege contra os tipos de HPV mais perigosos (oncogênicos), incluindo o 16 e o 18, responsáveis pela maioria dos casos de câncer cervical.
No Brasil, a vacina quadrivalente (previne 4 tipos de HPV: tipos 16, 18, 6 e 11) é oferecida gratuitamente pelo SUS para meninas e meninos de 9 a 14 anos, e também está disponível para outras faixas etárias, como pessoas imunossuprimidas ou com até 45 anos, dependendo da indicação.
Nas clínicas privadas de vacinação pode ser encontrada a vacina nonavalente (previne 9 tipos de HPV: tipos 16, 18, 31, 33, 45, 52, 58, 6 e 11) para mulheres e homens de 9 a 45 anos.
Exames de rastreamento
Esta é a prevenção secundária, essencial para detectar lesões pré-cancerosas ou o câncer em estágio inicial, quando as chances de cura são muito altas.
Os principais exames são o Papanicolau (citopatológico) e o teste de DNA do HPV. A realização regular desses exames, conforme orientação médica, permite o tratamento precoce das lesões, impedindo que evoluam para câncer.
Práticas sexuais seguras
O uso de preservativo (camisinha) durante as relações sexuais é outra importante forma de prevenção.
Embora não elimine totalmente o risco de infecção pelo HPV (pois o vírus pode estar em áreas da pele não cobertas pelo preservativo), seu uso reduz significativamente a chance de transmissão do vírus e de outras infecções sexualmente transmissíveis que podem ser fatores de risco.
Autora: Dra. Adriana Bittencourt Campaner, médica ginecologista e obstetra



