Aborto espontâneo: entenda as causas, sintomas e tratamento para aborto de repetição
Autora: Dra. Adriana Campaner - médica ginecologista
Tristeza, pesar, confusão e culpa são alguns dos sentimentos que costumam ser vivenciados por uma pessoa que tem um aborto espontâneo. Respeitar e validar as emoções de quem passa por uma experiência como essa é fundamental no processo de recuperação dessa perda.
Quando o aborto espontâneo acontece mais de uma vez, esses sentimentos podem se intensificar, gerando ainda mais frustração e angústia.
A seguir, saiba mais sobre as causas, sintomas e tratamento desse tipo de aborto, também conhecido como aborto de repetição ou aborto recorrente, ou seja, quando acontece duas ou mais vezes.
O que é aborto espontâneo?
O aborto espontâneo é a perda involuntária da gravidez e pode ser classificado em:
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Precoce: quando a interrupção da gravidez se dá antes da 12ª semana.
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Tardio: ocorre entre a 12ª e a 20ª semana de gestação ou quando o feto já atingiu o peso de 500 gramas.
Quais são as causas mais comuns do aborto espontâneo?
As causas do aborto espontâneo podem ser classificadas em:
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Fetais: as principais estão relacionadas a alterações cromossômicas, onde pode ocorrer duplicação ou perda de cromossomos. As mais comuns associadas ao aborto espontâneo são as trissomias, onde há uma cópia extra de um cromossomo específico. A trissomia mais conhecida é a Síndrome de Down, causada pela presença de três cópias do cromossomo 21, mas outras alterações, como as monossomias (falta de um cromossomo) também podem contribuir para o aborto espontâneo.
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Maternas: infecções maternas, como toxoplasmose (infecção causada por parasita), sífilis (Infecção Sexualmente Transmissível) e rubéola (doença viral contagiosa causada pelo vírus da rubéola), bem como malformações do útero. Além disso, doenças autoimunes da mãe, como a (SAF) síndrome do anticorpo antifosfolipídeo, doença que pode gerar coágulos dentro do sangue.
É importante lembrar que essas são algumas das causas mais comuns de aborto espontâneo, tanto de origem materna quanto fetal. No entanto, cada caso é único e é fundamental consultar um profissional de saúde para um diagnóstico preciso.
Quais são os sintomas de aborto?
Um sangramento em pequena quantidade, quando associado a outros sintomas, como cólicas e dores no baixo ventre, pode indicar o aborto.
Esses são os principais sintomas, mas algumas pacientes também podem experimentar um aumento no volume do sangramento e a possível eliminação de restos de placenta.
No entanto, vale ressaltar que, em geral, em alguns períodos da gravidez pequenos sangramentos podem ocorrer. Isso pode acontecer especialmente nos três primeiros meses, quando ocorre a implantação da placenta no útero, órgão temporário fundamental para o desenvolvimento do feto durante a gestação.
Existem também os casos de aborto retido, quando o organismo não eliminou o feto. Geralmente a descoberta ocorre quando a gestante, às vezes sem sintomas ou com cólicas leves, realiza um ultrassom de rotina durante a gravidez e o exame mostra que o bebê não tem mais batimentos cardíacos. Isso é conhecido como aborto retido.
Contudo, para confirmar um caso de aborto espontâneo é necessário realizar um exame ginecológico onde, no exame especular (com o “bico de pato”), é possível observar a saída de restos de placenta ou o colo do útero aberto. Além disso, a realização de um ultrassom pode mostrar a ausência de batimentos cardíacos fetais e a falta de crescimento adequado do feto, bem como restos de placenta.
O que é aborto de repetição?
O aborto de repetição se dá quando uma paciente vivencia três ou mais abortos.
Quais são as causas do aborto de repetição?
As causas mais comuns desse quadro incluem:
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Alterações genéticas do embrião (causa genética)
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Anomalias anatômicas do útero (causa anatômica)
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Desregulações autoimunes na gestante (causa autoimune)
Causa genética
Anomalias cromossômicas ou mutações genéticas no embrião podem levar a um desenvolvimento inadequado, resultando em aborto espontâneo.
Causa anatômica
Anormalidades na estrutura do útero, como malformações congênitas ou miomas, podem afetar a implantação do embrião e o desenvolvimento adequado da gravidez, aumentando o risco de aborto.
Causa autoimune
Distúrbios do sistema imunológico podem fazer com que o corpo ataque erroneamente as células do embrião, resultando em aborto.
O que fazer em caso de abortos espontâneos recorrentes?
Em primeiro lugar, é recomendado consultar um ginecologista. O médico irá realizar uma série de exames para investigar as possíveis causas subjacentes.
Embora o aborto possa ocorrer ocasionalmente e ser considerado normal, o aborto de repetição indica a necessidade de uma avaliação mais aprofundada.
Os exames solicitados pelo médico podem incluir:
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Testes de infecção: como o PCR (Reação em Cadeia de Polimerase), capaz de identificar o material genético de um agente infeccioso, além de sorologias que são realizadas pelo sangue e informam se há anticorpos conta os agentes infecciosos;
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Testes genéticos: para investigação de possíveis alterações genéticas na paciente. Também pode-se estudar os restos do embrião no caso de um aborto, para se verificar alterações genéticas.
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Exames do útero: como ultrassom e histerossalpingografia (exame que visualiza o interior do útero e das trompas);
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Exames para detectar doenças autoimunes: como exames de sangue para testar anticorpos específicos.
Em resumo, o médico realizará uma investigação abrangente para identificar as possíveis causas do aborto de repetição e, em seguida, irá propor tratamentos adequados de acordo com cada caso.
Qual médico procurar?
Em casos de abortos de repetição, é recomendado consultar inicialmente um ginecologista. Se os exames solicitados indicarem suspeita de alguma alteração, o médico pode encaminhar a paciente para um especialista em infertilidade, se necessário.