Leptospirose: conheça os riscos e formas de tratamento

Leptospirose: conheça os riscos e formas de tratamento

Leptospirose, uma doença bacteriana transmitida pela urina de animais, especialmente ratos, tem se tornado um problema crescente em áreas afetadas por enchentes no Rio Grande do Sul. A crise climática intensifica este cenário, aumentando a frequência e a gravidade das enchentes, e, consequentemente, o risco de surtos dessa infecção potencialmente perigosa. 

O que é leptospirose? 

A leptospirose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Leptospira, comumente encontrada na urina de roedores e outros animais. Também conhecida como “doença do rato”, ela pode ser contraída por humanos ao entrar em contato com água ou solo contaminados.  
 
A infecção pode variar de uma condição leve a uma doença grave, potencialmente fatal, especialmente se não tratada adequadamente.

Como ocorre a transmissão da leptospirose? 

A transmissão da leptospirose ocorre quando a bactéria Leptospira entra no corpo humano através de cortes na pele, abrasões ou mucosas, após contato com a urina de animais infectados ou água contaminada por esta urina. 
 
Em cenários de enchentes, a disseminação da bactéria é facilitada pela mistura de água de chuva com esgoto e resíduos urbanos, aumentando o risco de exposição para a população. 
 
O ciclo de transmissão envolve principalmente roedores, que são os principais reservatórios da bactéria, mas outros animais como cães, bois e porcos também podem ser eventualmente portadores. 

Ao urinarem, esses animais liberam a bactéria no ambiente, contaminando água e solo. O contato com essa água ou solo contaminados, principalmente durante enchentes, pode levar à infecção em humanos. A bactéria pode entrar no corpo através de feridas na pele, mucosas ou pelo contato com os olhos, nariz ou boca. 

Quais são os sintomas de leptospirose? 

Os sintomas da leptospirose podem variar amplamente, dificultando o diagnóstico precoce. Só para você ter uma ideia, eles são parecidos com os de outras condições como gripe, febre amarela, dengue, malária, hantavirose e hepatites. 
 
Mas, em geral, nos estágios iniciais, os sintomas mais comuns incluem: 

  • Febre alta; 
  • Dor de cabeça; 
  • Dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas; 
  • Calafrios; 
  • Vômitos; 
  • Diarreia.  

 
Na forma mais grave da doença – que compreende somente 10% dos casos, a pessoa pode desenvolver icterícia (coloração amarelada da pele e mucosas) por insuficiência hepática, hemorragias (equimoses, sangramentos em nariz, gengivas e pulmões) e comprometimento dos rins. 
 
Se a doença não for tratada adequadamente, o quadro pode levar ao coma e até mesmo à morte. Aqui, estamos falando de 10% dos casos graves.  
 
Em geral, os primeiros sintomas surgem de sete a 14 dias após o contágio. Mas podem levar até 30 dias para aparecer.  

Como é feito o diagnóstico? 

O exame físico e o histórico médico do paciente são importantes, incluindo a história de contato com água, alimentos ou solo contaminado com a urina de animas infectados. Entretanto, o diagnóstico deve ser confirmado por testes laboratoriais.  
 
Na fase precoce, a chamada de fase leptospirêmica, que se dá na primeira semana da doença, o diagnóstico é feito pela confirmação da presença da bactéria, mais comumente realizado por teste de detecção do DNA da bactéria no sangue por métodos moleculares (conhecido como PCR de leptospira).  
 
Já na fase aguda tardia, chamada de fase imune, o diagnóstico é feito por testes sorológicos, que detectam no sangue do paciente a presença de anticorpos contra a leptospirose. É possível detectar os anticorpos IgM de quatro a cinco dias depois do surgimento dos sintomas, e a presença de IgM é comumente usada para o diagnóstico da leptospirose. Os anticorpos IgG contra a Leptospira são raramente detectados, e, portanto, não são um bom marcador diagnóstico da doença.  
 
No Rio Grande do Sul, por exemplo, devido ao aumento dos casos após enchentes, é essencial que os pacientes que apresentem sintomas compatíveis procurem ajuda médica, especialmente aqueles expostos a áreas alagadas. O atendimento médico precoce e adequado é fundamental para que seja feito um diagnóstico rápido e sejam tomadas as medidas necessárias para a prevenção de complicações graves. 

Leptospirose tem cura? 

Sim, a leptospirose tem cura, especialmente quando diagnosticada e tratada precocemente. O tratamento imediato com antibióticos pode reduzir significativamente o risco de complicações graves e acelerar a recuperação. No entanto, a demora no diagnóstico e tratamento pode levar a uma evolução mais severa da doença, dificultando a cura completa. 

Qual é o tratamento para leptospirose? 

O tratamento para leptospirose depende da gravidade da doença. Nos casos leves, o uso de antibióticos como a doxiciclina ou amoxicilina pode ser suficiente. É crucial iniciar o tratamento o mais cedo possível para evitar complicações. 

Nos casos mais graves, a hospitalização pode ser necessária, e o tratamento pode incluir a administração intravenosa de antibióticos, reposição de fluidos, suporte renal e hepático, e cuidados intensivos. A intervenção precoce e adequada é vital para a recuperação dos pacientes e a prevenção de mortalidade. 

Dicas para prevenir a doença 

A prevenção da leptospirose envolve uma combinação de medidas de higiene pessoal e cuidados com o ambiente. Aqui estão algumas dicas essenciais para reduzir o risco de infecção: 

  • Sempre que possível, evite o contato direto com águas de enchente ou alagamentos. 
  • Se for inevitável entrar em contato com água potencialmente contaminada, use botas e luvas de borracha. 
  • Evite o acúmulo de lixo, que pode atrair ratos. Se eles forem frequentes onde você mora, providencie uma desratização. 
  • Lave bem frutas, legumes e utilize água tratada para consumo e preparo de alimentos. 
  • Se tiver animais de estimação, mantenha a vacinação em dia. Isso pode reduzir a transmissão da bactéria.   

O uso profilático de antimicrobianos (a chamada quimioprofilaxia) pode ser considerado em situações específicas de alto risco para aquisição de leptospirose, após avaliação médica criteriosa do risco dessa exposição.

Fonte: Dra. Ligia Pierrotti, médica infectologista da Dasa, especialista em Doenças Infecciosas e Parasitárias.